O que nos leva a escolher alguém para ser o único em nossa vida?

• Isso com certeza varia com os nossos anseios e carências "individuais".
• Eu sempre busquei um companheiro, não um salvador. Alguém para dividir coisas, não alguém para resolver todos os meus problemas. Alguém que também tivesse problemas, mas que não se importasse em dividi-los comigo. Alguém que me fizesse rir, não alguém que faça sempre chorar. Alguém que se sinta bem ao meu lado e me faça sentir bem também.
• A gente sempre se apaixona pela primeira impressão: "Ele foi tão carinhoso comigo", "Sabe, a gente conversou tanto, ele nem quis ficar só de agarramento", "Ele pediu meu telefone", "Ele ligou para mim e disse que quer me ver", "Nos falamos a semana inteira", "Acho que a gente está namorando...".
• Só que esta primeira impressão logo é desmentida. Vários acontecimentos se seguem, mas a gente continua achando possível um retorno ao início. Não percebemos que estes acontecimentos servem como dispositivos para colocarmos em análise a relação, estes acontecimentos nunca chegam a analisador. Por exemplo, no primeiro encontro diurno em que os dois estão empolgadíssimos, fazendo planos, felizes... exposição disto ou daquilo, CCBB ou Caixa Cultural... Mas aí o que "acontece"? Você escolhe uma roupa que não é a que ele esperava e ele deixa isso bem claro. O dia acaba antes de começar. Todas as inseguranças vem a tona: "Será que eu estou gorda demais?", "Será que sou cafona?", "Será que estou precisando do Esquadrão da Moda (SBT)?". Mas se você tem um pouco de auto-estima preservada e orgulho você manda esse "acontecimento" para o CARALHO!!! Bate no peito e diz: "Eu sou assim e me visto assim. Se quiser é isto que tem para hoje". E o que acontece? O problema não é analisado. Você acredita que aquilo não é "forte" o bastante para colocar a relação em análise.
• A gente costuma conhecer pessoas em vários lugares, supermercado, ônibus, loja de conveniência etc. Porém o mais comum é conhecer na "night", na "balada", no "fervo". Mas por que raios quando o relacionamento fica sério as pessoas não querem mais sair de casa? E você tem que escutar a seguinte pérola: "Ah! Minha preta, aqui EU TENHO tudo o que EU PRECISO: cerveja na geladeira, comidinha, você e controle remoto da TV." Pena que a comidinha não é você. Qualquer coisa passa a ser tão interessante quanto você, ou será o inverso, você passa a ser tão desinteressante quanto essas coisas. Você vira uma coisa. E mais uma vez, na espera do retorno ao início, você não analisa nada. Poxa, vocês se conheceram na Lapa e agora ele não gosta mais do lugar em que vocês se conheceram?!
• Outra coisa é quando ele te liga já tarde da noite, ou mesmo de madrugada, no meio da farra com os amigos querendo te ver. (OBS: não sou contra a farra com os amigos, acho que ela é necessária e saudável aos relacionamentos). Só que, você já passou o dia sem notícias dele ou então está esperando por ele, porque ele disse às 16h que ia dar uma passadinha em um churrasco, mas já são 23h, você não liga porque não quer pegar no pé... E no meio da madrugada recebe tal telefonema: "Ué?! Vem". Provavelmente você já estava dormindo, ou quase, e ele quer te encontrar dentro de uma lingerie, toda gostosa e perfumada, de preferência deitada e de pernas abertas, esperando ele chegar para TE FUDER!!! Aí o que você faz? Finge que está dormindo e quando ele começa a roncar de bêbado você vai para a sala e chora de raiva até o dia amanhecer. E mais uma vez você espera pelo retorno ao início e não analisa nada. Só por medo ou por insegurança.
• A essa altura do campeonato (porque é uma disputa, todo relacionamento é uma disputa de poder) você já cansou de se perguntar, de perguntar para as amigas e até para ele mesmo: "Será que ele gosta de mim?". Na verdade esta pergunta esconde uma outra questão: eu estou me envolvendo mais do que ele na história, daqui a pouco ele me dá um pé na bunda e eu vou ficar arrasada. Cadê o comprometimento dessa pessoa com o relacionmento? Mesmo se sentindo assim, você não analisa nada e empurra com a barriga, que no meu caso é bem grandinha!!! ;)
• E por falar em "grandinha"... eu sou gorda e não tenho problemas com isso. Me acho bonita, me acho gata, me acho gostosa, aliás, se eu fosse homem com certeza ia querer me comer!!! Assumir a minha condição de gorda não quer dizer que eu não me preocupe com a saúde, ou que as vezes não fique chateada de não achar o jeans que eu quero no meu tamanho (mas isso é problema da industria de jeans e não para a minha auto-estima). Mas por que tornar as caracteristicas físicas uma questão depois de tanto tempo? As pessoas não se conheceram assim? Ninguém foi hipnotizado como em "O amor é cego." Para mim o corpo não é uma questão. O que eu questiono é gente arrogante, egocêntrica, burra, ignorante, acomodada. Se eu sinto tesão pela pessoa... eu quero é mais!!! Mas o outro sempre acha na gente algo a ser mudado, nos acusa de ter engordado ou de ter emagrecido, de ter alisado o cabelo ou de ter deixado enrolado etc... E mais uma vez não se analisa nada...
• Mas em algum momento a caixa fica cheia e é necessário apenas "uma gota d'água" para ela rachar e tudo isto vir a tona. Por exemplo, em um dia que você pede a companhia dele por nada ou porque você vai passar por uma provação dificil, seja a apresentação de um projeto para o chefe, seja uma entrevista importante, seja porque alguém que você ama está doente ou porque seu pai resolveu passar o dia das mães com você e sua meio-irmã e levou junto a sua QUERIDA MADRASTA. Mulher esta que representa um período de grande tristeza na sua vida, um período de dificuldades financeiras e emocionais. Que mexe com aquilo que você mais tem medo, o sentimento de rejeição... E ele não atende seu pedido.
• A questão aqui, volto a dizer, não é ser o salvador, mas sim o companheiro. A simples presença dele não vai te livrar de todo o mau, mas será um alívio para enfrentar estas situações. Será que ele não entende o bem que te faz? Que ele te inspira confiança? Que você se sente protegida por ele? Ele te dá força!!!
• Gente, é hora de pensar. Tenho visto tantas pessoas boas que se gostam, mas que brigam por qualquer coisa e se separam por qualquer coisa. Chegou hora de analisar, de se implicar com suas escolhas. Fazer do "acontecimento" um "dispositivo" para "analisar". É hora de pensar o que realmente se quer e o que realmente se precisa. A "gota d'água" que para a maioria dos homens é vista como fato isolado, para as mulheres é uma parte do todo. É algo capaz de quebar com o que está cristalizado, com o que está engessando a relação. Pode dar potência e coragem de seguir adiante e fazer um novo fim, porque já não dá mais para voltar ao início e fazê-lo diferente. Nós temos escolhas, a escolha de não fazer nada ou a escolha de fazer outras escolhas.
• Não pensem que analisar os acontecimentos de uma relação seja algo pesado, como um fardo. Este momento é para reafirmar o amor que existe entre o casal, o problema é que sempre se espera a "gota d'água" para dialogar e assim as coisas tomam contorno bem demarcado e cores muito forte. A ideia não é pressionar seu parceiro a ser o que você gostaria, mas sim falar sobre os sentimentos e sobre todas as coisas boas que nos une.
• Se você tem alguém que gosta e ama de verdade, não fica com "medinho" de falar sobre os sentimentos. O mundo anda escasso de boas pessoas, valoriza o que você tem e enxerga o valor que te dão. Faça o outro ver o quanto você o ama, mas que você não tem problemas em mudar suas escolhas para buscar a sua felicidade. Mesmo que isso implique em uma separação.

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